segunda-feira, 6 de junho de 2011

Meta sã, mente sã: Meta e integridade psíquica

Você já se pegou observando as possibilidades de diagnóstico - os nomes que os profissionais da área da saúde psíquica dão - para a nossa ansiedade e irritabilidade ocidental, pós-moderna e contemporânea? Podemos ter um déficit de atenção, sermos bipolares, excessivamente frios (tendências à psicopatia) ou afetuosos (tendências à hiperdependência, imaturidade etc). São rotulações que manifestam uma questão social mais grave: a dificuldade de nos centrarmos.

Muito do que presenciamos hoje em relação às angústias dos seres humanos está diretamente ligado às dificuldades em estabelecermos metas para nossas ações. Numa sociedade mergulhada em milhões de estímulos apontando diferentes direções não é incomum - pelo contrário é até certo ponto muito natural e "sinal dos tempos" - encontrarmos cada vez mais indivíduos tensos, inseguros, estressados, irritadiços, que serão rotulados como bipolares, portadores dos mais diversos transtornos psicológicos.

Independente do rótulo da moda - que varia e continuará variando através do tempo - tendo a observar com seriedade o quadro de sofrimento psíquico imposto de fora para dentro ao sujeito imerso nesse universo cultural de multiplas possibilidades e como isso se espelha no seu mosaico íntimo de representações e pertencimentos. Essa pandemia de estímulos é uma realidade contemporânea e para se proteger do sofrimento psíquico que ela pode acarretar, é necessário que estabeleçamos, pessoalmente, um foco para a nossa jornada, para o nosso caminhar, algo em direção à qual nossas escolhas serão tomadas, um caminho, uma harmonia íntima, é preciso que estabeleçamos metas.

O objetivo direciona o comportamento
A fixação de objetivos constitui um dos campos de estudo mais explorados e mais solidamente estabelecidos em psicologia. Dois autores consagrados dessa área, Edwin A. Locke e Gary P. Latham desenvolveram uma teoria da fixação de objetivos segundo a qual o comportamento é intencional e a vontade de agir em um sentido específico deriva, em primeiro lugar, da existência de um objetivo a perseguir.

Foco: objetivo que regula a performance
Os objetivos são importantes reguladores do comportamento, pois incitam à ação e dirigem a energia para atividades bem definidas. Quando estamos orientados para a conquista de nossos objetivos concentramos automaticamente nossos esforços nos comportamentos que nos permitem atingi-los, deixando outras atividades (estranhas à realização de nosso objetivo primário, ou "meta")  em segundo plano. Através de uma meta bem estabelecida podemos discernir a relevância das possibilidades e é isso o que sustenta a nossa saúde psíquica, o que nos evita de cairmos em qualquer um dos possíveis "rótulos" no início desse texto. 

Foco e mudança de comportamento
Através desses estudos Locke e Latham chegaram à compreensão de que é através de intervenção orientada sobre as metas dos indivíduos que se pode efetivamente operar mudanças significativas nos seus comportamentos. Ou seja: para mudarmos nossos comportamentos, os atos com que escrevemos nossa história através do tempo, é necessário que mudemos nosso foco, nossa orientação primária. Para termos uma "escrita coesa" (apenas para manter a metáfora anterior) de nossa biografia é necessário que bem estabeleçamos nossa finalidade.

Meta clara, precisa e desafiadora!
Segundo a teoria da fixação de objetivos, quanto mais claros forem estes últimos, quanto mais precisos e difíceis de serem atingidos (sendo sempre possíveis, claro), melhor seria a performance que seríamos capazes de atingir.

A arte do bom desafio
Costumo dizer a meus sobrinhos que quando alguém lhes diz que eles não são capazes de fazer qualquer coisa a mensagem que eles devem ouvir é "estou morrendo de medo de que você consiga fazer isso". Gosto de ver o sorriso de liberdade e o brilho nos olhos deles quando eles percebem o jogo por trás das palavras. É uma alavanca fenomenal!

O que quero dizer com isso é que captamos melhor o que se espera de nós e conseguimos direcionar mais facilmente nossos esforços quando os bjetivos que são fixados são claros e precisos, mas que principalmente os objetivos nos parecem mais estimulantes à medida em que seus níveis de dificuldade vão se tornando mais altos, sem que sejam, é claro, impossíveis. É um jogo delicado e tão complexo quanto excitante.

A conquista do objetivo deve ser um desafio: um objetivo muito fácil de ser atingido será percebido como desinteressante, enquanto um objetivo impossível terá como efeito desencorajar o indivíduo, é no meio termo que ocorre o desafio e a motivação.

Pesquisas de campo e resultados
As conclusões principais do estudo de Locke e Latham foram:

1. Pessoas que perseguem um objetivo claro, preciso e difícil apresentam um melhor desempenho do que as que não tem um objetivo explícito a atingir.
2. A performance aumenta em uma relação proporcional ao nível de dificuldade do objetivo até que o indivíduo tenha atingido o limite de suas competências, ou tenha abandonado o objetivo.

3. Objetivos precisos e difíceis geram melhores resultados que objetivos difíceis porém pouco nítidos (por exemplo "faça o melhor que puder!").

4. Para que os objetivos sejam eficazes, eles devem provocar o comprometimento das pessoas para com eles.

O comprometimento, este distinto evasivo
Locke e Latham compreenderam também que, para aumentar esse comprometimento, é interessante que todos os envolvidos no processo de obtenção daquele objetivo tenham ao menos algum grau de participação  no momento de fixação dessas metas, alguma forma de recompensa pelos esforços realizados e, principalmente, oferecer apoio ao longo da jornada em direção àquele objetivo.

Criando objetivos de qualidade
Objetivos de qualidade, segundo os dois psicólogos, são objetivos que passam pelos crivos anteriores: claros, precisos e suficientemente difíceis (desafiadores). A criação desses objetivos estimularia os envolvidos a despender mais esforços para sua consecussão, os incentivaria a dirigir sua energia para esses objetivos e os levaria a perseverar em seus esforços apesar dos obstáculos.

Sua(s) meta(s) atual(is) é(são) suficientemente clara(s), precisa(s) e desafiadora(s)?

Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

Criador e treinador dos cursos
A Jornada do Herói
A Arte da Guerra Oriental
Estratégia em Ação
Liderança Corporativa e PNL

terça-feira, 3 de maio de 2011

Me dê um bom motivo...

Desde o início dos anos 1930 a motivação no trabalho e noções conexas como a performance e o envolvimento do funcionário com suas tarefas estão no topo das preocupações dos pesquisadores da área do comportamento organizacional.

O estudo da motivação tem como objeto analisar o que desencadeia e orienta os comportamentos, isto é, necessidades, tendências e valores assim como as reações que animam a vida afetiva de uma pessoa, tais como o estresse, as emoções e o sistema de defesa.

O que é motivação?
Antes de mais nada é preciso definir bem o termo com o qual vamos trabalhar. A motivação é o processo psicofisiológico resposnável pelo desencadeamento, pela manutenção e pela cessação de um comportamento, assim como pelo valor apetitivo (apetite, desejo, vontade, aproximação) ou aversivo (aversão, desinteresse, fuga, separação) conferido aos elementos do meio no qual se exerce esse comportamento.

Motivação é, enfim, o que nos aproxima ou nos afasta de pessoas, objetivos, metas, situações. Quase como uma força magnética que nos impele para perto ou longe de um determinado objetivo.
Algumas definições técnicas do conceito:

Motivação...
1. É um processo psicofisiológico que depende das atividades do sistema nervoso tanto quanto das atividades cognitivas (conhecimento, raciocínio).

2. É a variável responsável pelas flutuações do nível de ativação, do grau de atenção ou dispersão de uma pessoa. Responsável por nosso estado de vigília.

3. Corresponde às forças que são a causa de comportamentos orientados para um objetivo, forças que permitem manter esses comportamentos até que o objetivo visado seja atingido. Nesse sentido a motivação mantém a energia necessária para agir em prol de uma meta pré-estabelecida.
Motivação e valor
Atualmente dedica-se muito tempo e dinheiro para motivar funcionários a agir de forma mais eficaz em prol dos interesses de uma empresa. Como tempo e dinheiro são recursos estratégicos que, em qualquer lugar, são empregados de forma a atingir metas maiores do que o tempo e o dinheiro ali investidos, somos levados a perguntar: o que exatamente se deseja da motivação? O que a motivação confere aos seus “motivados”? Qual o valor atrás do qual o empresário, o administrador, o líder ou o gerente de equipe está?

Força, direção, persistência.
A motivação confere três características a uma conduta: força, direção e persistência. De fato as condutas, quaisquer que sejam, são orientadas para um objetivo ao qual a pessoa atribui certo valor. A busca da motivação na sociedade do trabalho atual está ligada a essa perda de referencial de valor agregado ao trabalho. A busca de sentimentos de familiaridade dentro do local de trabalho – a “família Petrobrás”, a “família Shell”, a “família Knorr” etc - demonstra um esforço pontual em recriar esse elo de familiaridade, de significação, perdido na automatização e no distanciamento das relações gerados pelas novas tecnologias de gerenciamento de trabalho e comunicação.

A empresa estratégica
A intensidade (força) e a persistência da ação denotam o valor que a pessoa atribui ao objetivo que persegue ou o interesse que o alvo visado com o comportamento tem, para a pessoa. Mais do que obter maior rendimento em um trabalho específico, as empresas querem descobrir o que move seus funcionários, qual o valor que possui significado e intensidade afetiva ou psíquica a ponto de modificar seus comportamentos. A empresa que souber identificar esses valores e trabalhar com eles, será a pioneira em qualquer ramo (para mais informações sobre competitividade e estratégia leia as matérias publicadas anteriormente no nosso blog sobre Liderança e Estratégia).

O prazer vicia
Na realidade os indivíduos tendem a repetir os comportamentos que lhes proporcionam prazer; este é o princípio do reforço. No cérebro do homem e dos mamíferos em geral existem estruturas que transmitem, com a estimulação, recompensa ou castigo através de neurotransmissores, essas estruturas são chamadas “centros de reforço”. A satisfação traz uma redução da tensão ligada à necessidade (ou ao desejo, à pulsão) que faz surgir o comportamento. A satisfação corresponde à conquista, parcial ou total, do objetivo perseguido. Quanto maior o sucesso advindo de uma atividade, maior o grau de satisfação proporcionado ao indivíduo.

PNL – Em Programação neurolingüística (PNL) temos o pressuposto de que “toda ação tem uma intenção positiva”, ou seja, qualquer atividade, qualquer ação tem – para o seu praticante! – uma intenção positiva. De alguma forma ele há de retirar algum prazer ou satisfação daquela ação. Veja mais no Dicionário ATENA de PNL.

O motivo entre o prazer e a dor
Para explicar o processo de motivação os especialistas usam frequentemente o exemplo do termostato, esse dispositivo que permite regular os fluxos de energia para manter uma temperatura constante. Por analogia a motivação seria um dispositivo que permite regular os fluxos de energia com o objetivo de manter o equilíbrio do organismo. As teorias de Lewin e Piaget se apóiam nessa concepção de equilíbrio.

Homeostasia, o termômetro interno
É de se esperar que ao regular os fluxos de energia entre os estados de equilíbrio e desequilíbrio, a motivação faça variar o nível de ativação do organismo; aliás, pode-se constatar esse estado efetivo na força e na persistência dos comportamentos de uma pessoa em uma situação dada. O nível de ativação está vinculado às exigências de uma dada situação e à disposição da pessoa ante essa situação. O nível de ativação permite compreender os fenômenos de esforço, fadiga e de performance dos funcionários e encontrar maneiras de mobilizar a energia desses últimos para a consecução dos objetivos de trabalho. Homeostasia é a tendência geral do organismo a estabelecer o equilíbrio e a restabelecê-lo toda vez que ele tiver sido rompido. Aprender a motivar-se e a motivar seus funcionários é aprender a “sintonizar” o termômetro interno com as demandas externas.

Festa ou foco?
Muitas empresas de treinamento e profissionais da área se esmeram em produzir festas e eventos socializantes para desenvolver a motivação de funcionários, principalmente depois das férias e antes de feriados como o ano novo. Estouram balões, quebram tábuas de madeira, desenham com pilot, giz de cera etc. É perfeitamente válido que ocorram tais “treinamentos” desde que a energia catalisada nessas oportunidades não se perca pela ausência de foco e pelo clima de “oba oba” generalizado. Se um funcionário mal orientado ou até mesmo com grau baixo de competência (por pouco tempo de casa, por exemplo) se motiva sem o devido foco, pode se animar em fazer errado por meses! Uma possibilidade viável para o bom uso dessa energia e motivação evocadas seria alocar essas formas de treinamento no início de uma jornada ou projeto, não no seu término ou ilhado em um final de semana ou fim de ano.

A motivação deve estar sempre alicerçada nos princípios que norteiam as metas, os valores, o desenvolvimento e as práticas daquela empresa específica. O pulo do gato é justamente elevar o moral do pessoal, sincronizar interesses e valores do funcionários com os da empresa, desenvolver a compreensão de trabalho fluídico e colaborativo (competição é ótima, pra fora!), trazer humor para o processo afim de gerar uma sensibilização de todos perante os demais e, principalmente, canalizar essa atmosfera para a consecução criativa, dinâmica e eficaz das tarefas a que a empresa se propõe.

Renato Kress,
Diretor do Instituto Atena

quarta-feira, 30 de março de 2011

Neurociência prática II: Estratégias de cognição e treinamento

Como pessoas com a mesma educação, mesma formação, mesmo meio social e mesma cultura podem discordar tão frontalmente em tantos assuntos? Seria fácil admitir que "somos todos diferentes" ou que "o ser humano é caótico", mas na verdade essas respostas superficiais não nos satisfazem nem nos ajudam quando queremos realmente compreender e respeitar o outro.

Neurocientistas têm chegado às mesmas conclusões que os autores mais consagrados da PNL no que tange a essa questão. Ao invés de observar apenas o comportamento final dos sujeitos, eles estão cada vez mais interessados nas vias, nos caminhos que levam e esse comportamento.

Processamento da informação
Estudos celulares levaram aos achados de que mesmo processos cognitivos complexos, como a atenção e a tomada de decisões, estão correlacionados com o padrão das descargas de células individuais em regiões específicas do cérebro. Isto mudou a maneira pela qual o comportamento é estudado tanto em animais experimentais quanto em seres humanos, de modo que o foco atualmente não é sobre como um estímulo provoca uma resposta, mas como se chega a uma resposta, ou seja, sobre o processamento da informação.

Estratégias cognitivas em Programação Neurolingüística
Esse mecanismo de processamento da informação até uma resolução, seja ela uma decisão, uma opinião, uma saída ou enfrentamento em um determinado contexto, é o que em programação neurolingüística se denomina "estratégia" ou "estratégia cognitiva". É o caminho sensorial interno que fazemos até chegarmos a uma conclusão sobre determinado assunto.

A programação neurolingüística parte do pressuposto de que pensamos usando nossos sentidos "para dentro", ou seja, pensamos ouvindo nossas palavras, sentindo nosso corpo e sensações e "vendo internamente" (criando imagens mentais, imaginando). A sequência utilizada para tomar decisões é pessoal, é uma característica pessoal apreendida por meio da repetição e constância ao longo da vida. Ela pode ser culturalmente orientada - a cultura ocidental contemporânea é muito mais visual que as culturas precedentes -, familiarmente influenciada - um maestro pedirá naturalmente a seu filho para "escutar" determinados sons e harmonias que são imperceptíveis aos ouvidos não treinados -, mas em essência ela é bem pessoal.

De que nos serve conhecer nossa estratégia cognitiva?
Adquirimos poder sobre aquilo que conhecemos. Ao conhecermos nossa estratégia cognitiva podemos ter  exercer nossa autonomia modificando-a afim de termos uma visão mais abrangente não só do mundo que nos cerca, mas das nossas decisões e das nossas leituras e percepções acerca das pessoas que convivem conosco. Conhecendo a topografia de nossas decisões, alerta acerca de cada ponto do que nos levou a decidir de uma ou de outra forma temos consciência de que sempre há outras opções possíveis e aí sim estaremos aptos a realmente tomar a melhor decisão possível dentro das circunstâncias dadas.



No curso Liderança Corporativa e PNL do Instituto ATENA treinamos a fundo tanto a percepção da própria estratégia cognitiva quanto a percepção da estratégia alheia.

Conhecer a estratégia cognitiva dos outros pode nos levar a minimizar possíveis conflitos, surpreender e até mesmo a fecharmos valiosos acordos. O mais importante, sempre, é conseguir compreender e respeitar, cada vez mais, a autonomia e a liberdade daqueles com quem convivemos.


Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

quarta-feira, 2 de março de 2011

Neurociência prática: Da imaginação à realização



"A imaginação é mais importante do que o conhecimento." - Albert Einstein

Essa conhecidíssima frase do físico mais famoso do século XX nos remete a compreensões muito mais profundas do que as que teríamos a princípio. O que poderia ser considerado um exagero de um gênio com personalidade forte e mente iridescente e inquieta, está se confirmando através das recentes descobeertas das neurociências: O cérebro trabalha os dados da imaginação da mesma forma que trabalha os dados da realidade. Como podemos usar esse conhecimento a nosso favor?

Imaginação, treinamento da realidade

O espaço real, bem como o imaginado ou o lembrado é representado nas áreas de associação parietais posteriores. Essas áreas também recebem entradas sinápticas a partir dos sistemas visual e auditivo e estão implicadas na integração das entradas sensoriais somáticas (tato) com essas outras modalidades sensoriais para dar origem a percepções e focalizar a atenção no espaço extrapessoal. - Jessel, Thomas M.


O que ocorre é que há uma fusão da sensação, da visão e da audição numa mesma área de processamento neuronal. Dessa forma, o que pensamos como real e o que pensamos como imaginação só se diferenciam, biologicamente, pela quantidade de dados e não necessariamente pela qualidade dos dados. Ou seja: Imaginar com muitos detalhes alguma sensação ou algum lugar específico, alguma meta, objetivo ou alguma frustração pode desencadear uma descarga dos neurotransmissores correspondentes àquele estímulo emocional.

Quando antevemos e nos pré-ocupamos com discussões que ainda não ocorreram, tendemos a nos exasperar, ficar com a boca seca, frio na espinha, irritabilidade, tensão. Quando rezamos ou quando deixamos nossa mente vagar por paisagens imaginárias leves e tranquilas ou quando antevemos o encontro com um grande amigo que não vemos por anos, nossos membros se relaxam, todo o nosso corpo corresponde hormonalmente àquela situação imaginária.

Imagine-se deitando vagarosamente sobre cacos de pó de vidro, primeiro as pernas e depois, lentamente, as costas. Nada agradável, não é? Confesso que fiquei com uma certa irritabilidade nas costas somente ao escrever a frase.

Agora imagine-se deitando sobre uma cama de pétalas de rosas, ou penas de pássaros. Primeiro as pernas e depois, lentamente, as costas. A sensação, física, é outra?

Submodalidades, dados da imaginação para a realização

A programação neurolingüística, intuindo essa descoberta da neurociência através da prática, desenvolveu o trabalho com as submodalidades.

O que são submodalidades? O Dicionário ATENA de PNL define submodalidades como: compostos específicos de uma experiência sensorial. Temos submodalidades visuais, auditivas e cinestésicas (mais freqüentes), bem como as olfativas e gustativas (menos freqüentes).

Submodalidades visuais: filme, slides ou foto, imagem panorâmica ou enquadrada, em duas ou três dimensões etc.
Submodalidades auditivas: volume, cadência, ritmo, inflexão da voz etc.
Submodalidades cinestésicas: temperatura, textura, umidade, pressão, localização etc.

Da imagem ao real

Ou seja, o trabalho com as submodalidades implica na criação e introjeção de "dados extras", de base sensorial, em nossas imagens de metas e objetivos ou em nossas vivências, para que possamos causar um efeito neural mais forte e duradouro. A "qualidade" da imaginação, determinada pela quantidade de dados precisos que colocarmos sobre ela, determinando cores, texturas, sabores, cheiros, sons, vai influenciar na liberação dos neurotransmissores que serão responsáveis pelo nosso estado de ânimo frente à tarefa dada e, principalmente, por nos motivar em busca da realização.

Portanto, decore sua meta e detalhe sua mente, até que ela possa vestir a realidade ao teu redor.

Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
www.institutoatena.com

Criador dos cursos
A Jornada do Herói
A Arte da Guerra Oriental
Liderança Corporativa e PNL
Estratégia em Ação

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cartografia inteligente - PNL e Neurociências

"Tem sido dito que a beleza está nos olhos de quem vê. Como uma hipótese essa afirmação aponta diretamente para o problema central da cognição (...): Um mundo de experiências é produzido por quem as experimenta (...) Existe certamente um mundo real de árvores, de pessoas, de carros e até de livros, e este tem muito a ver com a nossa experiência destes objetos. No entanto, não temos acesso imediato ao mundo, nem a nenhuma de suas propriedades (...) tudo aquilo que sabemos acerca da realidade foi mediado não apenas pelos órgãos dos sentidos, mas por sistemas complexos que interpretam e reinterpretam as informações sensoriais (...)
O termo 'cognição' se refere a todos os processos pelos quais a entrada sensorial é transformada, reduzida, elaborada, armazenada, recuperada e utilizada."
 - Ulrich Nesser, 1967

O interessante dessa citação é que ela poderia ter sido escrita por um neoplatônio, tanto quanto por um atual discípulo de Aristóteles, por um neurocientista ou por um bom professor de programação neurolingüística. O fato de ela ser, na realidade, de um psicólogo alemão radicado nos Estados Unidos é menos importante para nós, agora, do que a percepção de que muitas disciplinas e correntes filosóficas entram em acordo, pelo menos atualmente, no que concerne ao básico da cognição humana: O mundo depende do sujeito que o vê.

Da idéia à ação
O que diferencia a programação neurolingüística (PNL) das demais disciplinas acima citadas é que, além de ter sido gerada pela interseção criadora entre várias disciplinas acadêmicas, entre elas a lingüística, a semântica, a neurologia, a programação digital e a psicologia, a pnl foi criada como uma ferramenta, como um instrumento cuja utilidade está na sua aplicação ao nosso mundo. Ela começa a agir onde as últimas descobertas dos neurocientistas, filósofos e pensadores contemporâneos param. É daí que ela salta para novas percepções, descobertas e aprendizagens.

Uma caixinha de lupas, óculos, binóculos...
A pnl potencializa percepções e leituras da realidade. Por exemplo: toda a grande citação com que iniciamos esse texto não é apenas suprimida numa das célebres frases da neurolingüística que nos diz que "O Mapa não é o Território", mas essa mesma frase, dentro do contexto da pnl, é um pressuposto básico, inicial, apreendido pelos alunos de neurolingüística para que eles possam perceber que sua representação da realidade nada mais é do que uma representação e, como tal, ela pode ser enriquecida com novas experiências, percepções e possibilidades. Dentro da pnl essa concepção é, única e tão somente, o princípio básico para que novas percepções sejam criadas, para que o aprendizado se torne natural, prazeroso e constante. Os que praticam essa ferramenta poderiam fazer dela uma verdadeira Ferrari tanto cognitiva quanto humanitária, se apenas se atinassem a  respeitar os mapas alheios e aprender com eles.

Cartografia íntima
Quando percebemos que nosso "mapa", nossa interpretação da realidade, não é a única, a verdadeira e absoluta nos abrimos para compreender a riqueza do mundo, desde a riqueza de outras culturas nos mais diversos continentes até à riqueza da experiência de nossos irmãos, filhos e amigos, que é muitíssimo diversa da nossa. Essa riqueza está aí, basta termos olhos para vê-la.

Trocando os fios
Quando temos uma formação em pnl nos predispomos a estudar neurociência cognitiva começamos a ter algumas percepções interessantíssimas. Por exemplo: a definição clássica de pnl é "O estudo da estrutura da experiência cognitiva" (Richard Bandler) e, segundo Eric R, Kandel, escritor do monumental Fundamentos da Neurociência e do Comportamento, "O principal objetivo da ciência neural cognitiva é estudar as representações internas dos eventos mentais".

Outra concepção importante da pnl é que se mudarmos nossa representação do mundo, mudaremos também nossa experiência do mundo e vice-versa, podemos encontrar a mesma concepção em uma das conclusões de Kandel "A representação interna do espaço pessoal é modificável pela experiência", afinal, ainda em Kandel, "O que distingue uma região do cérebro de outra e um cérebro de outro é o número de neurônios e a maneira pela qual eles estão interconectados". Ou seja: novas experiências geram novas percepções e ampliam nossa possibilidade de interpretar a realidade. É o princípio da criatividade tanto quanto o da aprendizagem. É nele e através dele que a neurolingüística opera.

O mundo como ilusão
Os diferentes modos de interação com o mundo - um objeto visto, uma face tocada, ou uma melodia ouvida - são processados em paralelo por diferentes sistemas sensoriais. Primeiro os receptores em cada sistema analisam e decompoem as informações do estímulo. Cada sistema sensorial, então, abstrai essas informações e as representa no cérebro por vias e regiões cerebrais específicas. De momento a momento esse fluxo constante de informações é editado em um contínuo aparentemente ininterrupto de percepções unificadas. Assim, a aparência de nossas percepções como imagens diretas e precisas do mundo é uma ilusão.

Neurolingüística, o mundo como criação
A neurociência já percebeu que apesar das conexões serem precisas em cada cérebro, não são exatamente as mesmas em todos os indivíduos, assim "as conexões entre as células podem ser alteradas pela atividade e pelo aprendizado" (Schwartz, 2002). Através da interação entre as descobertas de Frederick Bartlett, Edwin Tolman, George Miller, Noam Chomsky, Ulrick Neisser, Herbert Simon e outros, a neurociência está agora corroborando as descobertas da neurolingüística e vem diariamente endossando seus métodos com descobertas e conclusões similares ou idênticas às encontradas em bons livros da área de pnl. são duas disciplinas que podem e devem ser utilizadas em uníssono para construir um bom trenamento em neurolingüística.

Se compreendemos que "a percepção forma o comportamento e que a própria percepção é um processo construtivo que depende não apenas das informações inerentes ao estímulo mas, também, da estrutura mental daquele que percebe" (Kandel, 2002) podemos começar a instrumentalizar essas percepções e essas experiências para efetivamente criar algo inteiramente novo, criativo e dinâmico. Esse é, em suma, não apenas o modus operandi da criação dos treinamentos únicos e patenteados do Instituto ATENA, mas o que incentivamos em todos os nossos treinandos, parceiros e clientes: Crie! Inove! Seja! Recrie-se em sua melhor concepção! Veja-se através do microscópio do comportamento cotidiano ou da luneta das suas crenças e valores, integre-se e recrie-se, sempre!

Autor: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Inteligência Espiritual, aglutinando significado e valor

Nem inteligência elevada, nem imaginação, nem as duas coisas juntas fazem o gênio.
Amor! Amor! Amor! Essa é a alma do gênio.

Weder hohe Intelligenz noch Phantasie, noch beide zusammen machen Genie.
Liebe! Liebe! Liebe! Dies ist die Seele des Genies. - Wolfgang Amadeus Mozart


Estudos científicos atuais concluem que, além da inteligência emocional - Q.E., há a inteligência espiritual - Q.S. Zohar e Marshall (2002:18) assim a definem: "É com a inteligência espiritual que abordamos e solucionamos problemas de sentido e de valor, a inteligência com a qual podemos pôr nossos atos e nossa vida em um contexto mais amplo, mais rico, mais gerador de sentido... é a nossa inteligência final".

Segundo esses autores, a inteligência espiritual pode ser medida pela magnetoencefalografia - MEG, conforme pesquisa do Dr. Rodolfo Llinas da Escola de Medicina da Universidade de Nova Iorque. A inteligência espiritual evidencia-se no substrato neural da atividade oscilatória de 40Hz, que percorre todo o cérebro e proporciona o meio pelo qual a experiência do ser humano pode ser aglutinada e inserida em um marco mais amplo de sentido. Concluíram que as oscilações de 40Hz constituem a base neural do Q.S.

"Uma forte transcendência como propriedade do QS é naturalmente uma perspectiva muito interessante. Significaria que um aspecto fundamental da inteligência humana nos dá acesso ao fundamento do ser, às leis e princípios da existência, exatamente como pensadores hindus e budistas sempre alegaram. A mente, nesse caso, teria origem no próprio núcleo das coisas. O aspecto da nossa inteligência que é o nosso QS transcende o mero ego, o mero cérebro, as meras 'sacudidelas dos neurônios' e torna-se a expressão do que a maioria dos ocidentais chama 'Deus'". - Zohar e Marshall, 2002: 101

Tolerar, conviver, aceitar
A tolerância, como bem exemplificou um colega num grupo de estudos sobre religiões do qual participo, ainda pressupõe alguma espécie de conflito. A convivência, como bem demonstra a inegável e triste situação na Palestina, pode tanto gerar o respeito como acirrar o conflito. Já a aceitação não. Aceitar é, em termos de Programação Neurolingüística (PNL), possibilitar que aquela interpretação, aquele mapa da realidade tenha seu direito de existir e, concomitantemente, perceber que ele faz parte das inúmeras possibilidades do gênio humano e algo dele pode ser um potencial criativo para o nosso mapa. Muito do que consideramos produto de um gênio criativo está nessa simples sobreposição de diferentes lupas sobre o mesmo mundo.

Aceitar, trocar, criar
Aceitar é ir além, é observar e compreender o que há por trás das diferenças e a forma como essas diferenças podem nos remeter a novas realidades muito mais estimulantes que as que as originaram. Aceitando nos permitimos trocar e através da permuta podemos construir novos panoramas para velhas questões.

Criar sistemas, criar mapas
A importância da percepção acadêmica da inteligência espiritual é que, nós, ocidentais, submersos em ceticismo e jogos de poder ao longo de nossa história, criamos um crivo poderoso para dar crédito a algo, a instituição acadêmica(1). Ocorre que o mais interessante aqui é que até mesmo membros da academia têm percebido que essa não é a descoberta de mais uma inteligência - como a da inteligência cinética, que o Ronaldinho Gaúcho tem mais do que 99% dos leitores desse artigo incluindo, obviamente seu escritor -, mas a descoberta da inteligência última, a que agrega as demais ao seu redor.

A inteligência última parece cada vez mais, um grande sistema que cria diversos sistemas, o sistema que coaduna os mais diversos mapas da realidade e consegue colocar toda essa energia da ação motivada pela crença em prol de um único objetivo. Não é disso que se tratam os aspectos mais importantes da mente? Criar, crer, agir?

Pensar sistêmicamente, pensar espiritualmente
Algo do que compreendemos como espiritualidade têm a ver com o caráter finalista, com uma expectativa de que haja, no fim, um desígnio maior, uma ordem intrínseca permeando os acontecimentos a princípio caóticos da vida. A inteligência espiritual tem a ver com essa questão, com a percepção de que mais "inteligente", ou nesse ponto até arriscaria a palavra "sábio" é quem consegue, enfim, aglutinar diversas leituras da realidade dentro de um mesmo mapa, maior, que aceite as diferenças e se mova em direção a algo, dotando esse algo de valor. A que alvo estás dando valor ultimamente?

Texto de: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA


(1) Às vezes convenientemente esquecemos a sociologia e a política internas dessas instituições, esquecemos de que nelas trabalham pessoas com os mais diversos, legítimos e ilegítimos interesses, subvencionados por empresas também movidas pelos mesmos legítimos ou ilegítimos interesses.